#jesuischarlie
Fez ontem um ano que a calma do meu estágio, iniciado praticamente no dia anterior, foi abalada por uma situação sem precedentes. Relembro a cara de choque de todos aqueles que se reuniram na redação da rádio Alfa para ver desfilar as imagens e as informações na televisão de um ataque que tinha conhecido momentos antes na redação de um jornal pelo qual praticamente nunca tinha ouvido falar.
A informação era pouco clara: tiroteio no jornal Charlie Hebdo. Várias mortes confirmadas.
"Mas o que é que raio é o Charlie Hebdo?", perguntei eu para os meus botões, alma caridosa vinda de Portugal para estagiar numa rádio portuguesa num país estrangeiro. Tinha começado o estágio vinte e quatro horas antes e não estava a perceber o alcance daquilo.
O que era o Charlie Hebdo? E um tiroteiro? Afinal era um jornal que tinha publicado imagens do Maomé em 2010? Mas porquê?
Acho que naquele momento ninguém pensou o que era aquilo tudo: pensavam que era mais um maluco que tinha entrado aos tiros.
Quando as informações começaram a chegar, por impulso, comecei a navegar nas páginas dos jornais franceses, das rádios e das televisões. TInha sempre o jornal Observador para acompanhar a informação em português. A Olívia, a minha orientadora de estágio na rádio, começou também ela à procura de outras informações nos sites de informação em contínuo.
E olhávamos com atenção para aquilo que a televisão mostrava: os nomes das vítimas, os pormenores macabros, o "Allahu Akbar", os vídeos em direto de tudo o que estava a acontecer filmado por outros jornalistas de um jornal das imediações, os vídeos nas redes sociais, os nomes dos convertidos a uma versão errada da religião.
Relembro os funcionários e colaboradores da rádio que passavam pela redação e ficavam a olhar para a televisão, pasmados com algo que julgavam impossível: um ataque "no coração da Europa".
Depois, as quarenta e oito hoas: a procura dos dois irmãos, o surgimento de um terceiro convertido, o terror instalado nos autocarros e comboios, as imagens macabras, o fim à Hollywood em que os convertidos morreram "à la" martir... porque quem é de Alá, quando morre, é como mártir, dizem eles...
... como mártir de coisa nenhuma, dizemos nós!
Passado um ano, o terror reina num mundo que quer paz. Os atentados de sexta-feira 13 de novembro provam que "eles não se puseram a jeito".
Continuamos a lutar pela liberdade. Neste momento, já não é liberdade de pensamento e de dizer o que queremos: é a liberdade de viver segundo as nossas escolhas.
Em suma, continuo #jesuischarlie.
Journalists are not the owners of freedom of speech, only its servants.
- Riss in "Charlie Hebdo", nº1224